sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Caminho


Onde procurar um caminho nessas horas? Talvez uma saída de mestre seja calcular essa distância que existe entre todos e esses olhares inertes e longos para o nada além de um alvo fútil.

Ao mesmo passo de um desconhecido na escada, estava ele sentado procurando saber onde havia deixado seus sorrisos que tanto animavam as suas próprias tristezas, já que ninguém poderia fazer isso no momento por ele, como já era de costume. Escutava as conversas alheias sem querer fazer isso, mas por necessidade de conhecer os outros, mesmo que fosse por trechos, pedaços de vida que passam despercebidas por todos, passos de caminhos que não seguiu e destinos que não viu.

Parece que tudo foi embora, por um momento chegou a pensar que aquele silêncio era agradável, longe de toda aquela confusão das ruas que já era acostumado. Mas mesmo assim insistiu em procurar encontrar um ruído naquele vazio, pois já sabia até então que tudo estava tão neutro e sem cores. Tinha medo de sair dali e descobrir os motivos de sua tão triste feição, parado e calado querendo o que precisa, que nem é tanto, mas desconsolado de suas tarefas e cuidados pessoais.

Se perguntou o que escondia nos olhos daquele velho cão que se sentava quando se aproximava da sua esquina. Naqueles olhos havia um brilho que o seguiu ao olhar para ele, como um vigia, um guarda que não latiu ao lhe ver passar. Apenas o fitou calmamente como se quisesse dizer algo, mas ele não soube compreender.

Entrou em casa e se derramou na cama, o teto vazio, paredes pouco cobertas e janela aberta. Um resquício de palavras veio em sua mente antes de adormecer e de novo acordar no meio da madrugada, mas nada que lhe valesse um registro.

Mas sem querer de novo dormiu, e em lágrimas o seu corpo acalmou o resto de sua alma para um sonho que ainda não tinha visto, onde não há cores, nem formas, nem tamanhos e é onde o tudo e o nada estão sempre juntos.